Humor Brasileiro

Tutuca, a voz de serrote

Lucio Mauro

Nome: Ulisver João Baptista Linhares
Nascimento= 15/10/1932-RJ
Falecimento = 03/12/2015-RJ

1960 Tutuca crooner de boateSeu nome surgiu de forma inusitada: quando nasceu, cada um da família queria que tivesse um nome. Como não chegavam a um acordo, resolveram pôr todas as letras do alfabeto numa caixinha e sortear. Um por um dos sete parentes mais próximos sortearam as letras u-l-i-s-v-e-r e daí o seu nome de batismo: Ulisver. Segundo a Revista do Rádio de 1960, quando pequeno, Ulisver foi apelidado de Tutuca por suas tias em virtude do cabelo comprido que usava. Tendo feito o curso científico, ele tinha a intenção de ser médico, mas – ao que tudo indica – o amor teria entrado em sua vida e mudado o seu caminho. Já casado e com uma filhinha chamada Elizabeth, Tutuca trabalhou por um tempo como propagandista de produtos farmacêuticos. Isso foi até o dia em que resolveu acompanhar um primo a rádio onde trabalhava. A rádio era a Tupi-RJ e o primo era Wellington Botelho, que já era sucesso em rádio como cantor e comediante.

Wellington Botelho,

Wellington Botelho,

Apresentado por Wellington, Tutuca fez teste como cantor e foi aprovado. Começou a participar de programas musicais, porém recebendo apenas cachê. Um dia (segundo Tutuca, por uma sugestão de Max Nunes) ele resolveu cantar de forma diferente, usando modulação de voz, algo parecido como uma “taquara rachada”. NO meio da música Tutuca resolveu botar um “xiiiiiii”com várias modulações. O resultado foi o riso incontido do público. Surgia ali o comediante Tutuca, o homem da voz de serrote, como foi apelidado.

Revista do Rádio - 1960

Revista do Rádio – 1960

Max Nunes, com seu eterno olho clínico, viu o potencial do artista e sugeriu que a emissora o contratasse como comediante. Era o ano de 1957 e junto com o contrato Tutuca ganhava ali outro presente: um personagem criado por Max Nunes: o Lambretildo, seu primeiro personagem de sucesso, para o programam Sequência G-3.

O 1º personagem na carreira

O 1º personagem na carreira

Lambretildo era um garoto que punha qualquer adulto em confusão.

Tutuca e Otávio França na Rádio Tupi - 1957

Tutuca e Otávio França na Rádio Tupi – 1957

Tutuca passou pelas rádios mais importantes dos anos 50 e 60.1957 Tutuca na Tupi1958 Tutuca na Mayrink1958 Tutuca Varandão1959 Tutuca no Miss Campeonato Ali surgiram personagens como Fofoquinha, Filhinho do Papai, Papinho, o Madureira (em Miss Campeonato) e Garçom Crooner. 1963 Tutuca 11963 Tutuca 2

O garçom crooner, o homem da voz de serrote

O garçom crooner, o homem da voz de serrote

Do rádio para a televisão foi um caminho natural. Ele participou dos grandes sucessos da televisão brasileira sempre com muito destaques.

Tutuca em Praça Onze - 1964

Tutuca em Praça Onze – 1964

Tutuca e Paulo Gracindo em Noites Cariocas - 1964

Tutuca e Paulo Gracindo em Noites Cariocas – 1964

Tutuca,  (à esquerda) como engraxate em Noites Cariocas - 1964

Tutuca, (à esquerda) como engraxate em Noites Cariocas – 1964

Um de seus personagens mais marcantes foi o Clementino, um faxineiro desligado que nunca percebia que as mulheres davam em cima dele. O esquete do Clementino era sempre finalizado com o bordão “ah, se ela me desse bola!”, que logo caiu na boca do povo. Mas, apesar do sucesso como comediante e humorista (com o tempo, ele passou a escrever os próprios textos) Tutuca nunca abandonou a música. Para o carnaval de 1962 ele lançou duas marchinhas que fizeram relativo sucesso. Uma delas era “Minha Renúncia” numa alusão direta à atitude do ex-presidente Jânio Quadros seis meses antes.

1962 Tutuca renúncia Por outro lado, houve vezes em que resolveu lembrar dos tempos de cantor romântico, chegando mesmo a gravar canções de Roberto Carlos.1965 Tutuca canta Roberto Carlos 2 Como não poderia deixar de ser, Tutuca fez shows em boates e em teatro, tanto em revista como comédia (foi quando surgiu o personagem gay do Magnólio, que anos depois seria apresentado em A Praça é Nossa como a única testemunha de um crime). Também fez cinema, tendo participado de filmes como “O home m do Sputinik”, “O homem que roubou a copa do mundo”, “Bom mesmo é carnaval”  e mais recentemente em “Os Normais, o filme”.

Tutuca e Marisa Orth em cena de "Os  Normais, o filme"

Tutuca e Marisa Orth em cena de “Os Normais, o filme”

No final dos anos 80 Tutuca voltaria a fazer muito sucesso em A Praça É Nossa com o personagem “Chefinho” que tudo permitia à secretária Dona Dadá em detrimento do funcionário exemplar Seo Menezes. “Tadinha dela, seo Menezes”, dito com sua inconfundível voz em falsete, foi uma das frases mais marcantes do humor no final dos anos 80.

Tutuca, Marriete e Aldo César no quadro do "Chefinhoi" - A Praça é Nossa

Tutuca, Marriete e Aldo César no quadro do “Chefinhoi” – A Praça é Nossa – 1999

Felipe Levoto, Tutuca e Aldo César no quadro "Magnólio" - A Praça é Nossa

Felipe Levoto, Tutuca e Aldo César no quadro “Magnólio” – A Praça é Nossa

Tutuca e Camila Pollentini no quadro "Clementino" em A Praça é Nossa

Tutuca e Camila Pollentini no quadro “Clementino” em A Praça é Nossa

Nos últimos anos Tutuca esteve impossibilitado de trabalhar desde que sofreu um AVC. Um amigo nosso, o também comediante Maurício Manfrini (o Paulinho Gogó, de A Praça é Nossa), telefonou para saber como ele estava.

Maurício Manfrini (Paulinho Gogó)

Paulinho Gogó

O diálogo do telefonema foi assim:
— E aí, Tutuca? Como é que você tá?
— Tá tudo bem, meu filho.
— Me diz aí, como foi que aconteceu o AVC?
— Ah, foi simples. Eu tava em casa sem porra nenhuma para fazer, aí pensei “ah, acho que vou ter um AVC”.
E os dois começaram a gargalhar.

Abaixo a relação de alguns dos programas de rádio e tv em que Tutuca participou:

Sequência G-3 – Rádio Tupi-Rio

Boate do Ali Babá – Rádio Tupi-Rio

Miss Campeonato – Rádio Mayrink Veiga

A cidade se diverte – Rádio Mayrink Veiga

Vai da valsa – Rádio Mayrink Veiga

Cordão dos Chaleiras – Rádio Mayrink Veiga

Ali Babá e os 40 Garçons – Rádio Mayrink Veiga

Risos e Melodias – Rádio Mayrink Veiga

Boate do Ali Babá – TV Tupi-Rio

O Riso é o limite – TV Rio

Praça Onze – TV Rio

Noites Cariocas – TV Rio

Marmelândia – TV Tupi-Rio

Rua da Alegria – Rádio Tupi-RJ

São Paulo se diverte – TV Excelsior

Show Riso – TV Excelsior

Condomínio da alegria – TV Excelsior

Humor em Bossa Nove – TV Continental

VIP Show – TV Rio

Rio Ri À Toa – TV Rio

TV Rio Riso – TV Rio

Paulo Gracindo Show – TV Rio

Praça da Alegria – TV Rio

Bairro Feliz – TV Globo

Edifício Balança, mas não cai – TV Globo

Alô, Brasil; aquele abraço – TV Globo

Faça humor, não faça guerra – TV Globo

Risoteque 78 – TV Tupi

Pisulino – TV Tupi-SP

Café sem concerto – TV Tupi-SP

Apertura – TV Tupi

Reapertura – SBT

A Praça é Nossa – SBT

Zorra Total – TV Globo

Clique no link e assista a um esquete de Tutuca (com a participação de Beto Guarani e Rosana Moreira) em A Praça é Nossa, no 2000, interpretando o faxineiro Clementino.

 

 

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Fafy Siqueira / Marylin Monroe

Fafy Siqueira mARYLIN moNROE

Seu nome de batismo é Fátima Figueiredo, mas todos a conhecem como Fafy Siqueira. É uma das artistas mais completas: atriz, humorista, comediante, cantora, compositora e diretora. Começou como cantora, mas aos poucos foi dando espaço para a atriz, a compositora, a comediante. Fafy Siqueira – que em 2002 comandou  na TV Cultura o “Alô Alô”, programa solo – é uma das poucas comediantes com talento para imitação. Estão em sua lista de excelentes imitações: Roberto Carlos, Golias, Chacrinha, Alcione e Xuxa.  

Fafy Siqueira imitando Roberto Carlos, Golias e Chacrinha

Fafy Siqueira imitando Roberto Carlos, Golias e Chacrinha

Além de sucesso em teatro e em novelas, Fafy Siqueira sempre se destacou em programas de humor. Dona Jupira  (A Praça é Nossa / Escolinha do Prof. Raimundo / Zorra Total), uma portuguesa extremamente brava, e que costuma levar as frases ao pé da letra, é um de seus principais personagens. Outros são a cantora brega Gardêniia Alves; o eterno calouro Diamantino; Dona Zulmira, dona de uma banca de jornal, que costuma confundir-se com artistas… Clique no player e assista Fafy Siqueira como Dona Jupira, travestida de Marylin Monroe, contracenando com Carlos Alberto de Nóbrega, durante o 2º aniversário de A Praça é Nossa, em 1989.  

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Osvaldo Molles

Osvaldo Moles 1963 autografando seu livroNome completo: Osvaldo Molles
Nascimento 14/03/1913 – Santos – SP
Falecimento 14/05/1967 – São Paulo – SP

Com apenas 15 anos Osvaldo Molles percebeu que poderia ganhar a vida escrevendo. E foi em jornal que ele decidiu inciar sua caminhada na vida escritor. Primeiro passou pelo Diário Nacional, como repórter, e depois pelo São Paulo -Jornal,  como cronista. Ao mesmo tempo em que trabalhava, estudava idiomas e Quínica. Completada a maioridade foi trabalhar em Salvador e um ano depois já era secretário do jornal “Estado da Bahia”, que foi obrigado a deixar ao participar de um congresso conhecido como Congresso dos Homens Sem Deus.
De volta a São Paulo, trabalhou como redator no Correio Paulistano até que em 1937 iniciou sua carreira radiofônica na PRG-2, Rádio Tupi de São Paulo. Na Tupi, Osvaldo Molles começou como locutor, passando logo em seguida para redator de comerciais. Sua primeira produção radiofônica foi um programa de carnaval no qual, além de escrever e produzir, ele também cantava. Em 1940 Molles começou a escrever para a revista Bom Humor juntamente com Walter Foster, Pagano Sobrinho e Zé Fidelis (os dois últimos seriam, mais tarde, seus companheiros de emissora). A especialidade de Molles era fazer graça a partir de fatos reais. Em seu livro “Dá Licença de Contar”, Ayrton Mugnaini Jr. relata um texto que foi publicado em 1946:
“E na noite em que Lady Godiva atravessou, esplendorosamente nua, em seu cavalo branco, na cidade de Coventry todos fecharam as suas portas… mas as lojas de ferragens esgotaram seus estoques de puas e verrumas”.
Da Rádio Tupi Osvaldo Molles transferiu-se para a PRB-9, Rádio Record. Foi nessa emissora que ele iniciou a criação de uma infindável série de programas, em sua maioria,  humorísticos.

Folha da Noite - 1941

Folha da Noite – 1941

E não tardou a surgir seu primeiro grande sucesso: A Casa da Sogra, que ficou por cinco anos no ar.

Folha da Manhã - 1941

Folha da Manhã – 1941

Nos anos seguintes, outros sucessos de público foram emplacados.

Folha da Noite - 1947

Folha da Noite – 1947

Folha da Noite - 1948

Folha da Noite – 1948

Mostrando criatividade eclética, Molles também começava a se notabilizar pela criação de programas dramáticos. E sempre com total sucesso.

Revista do Rádio - 1949

Revista do Rádio – 1949

Revista do Rádio - 1950

Revista do Rádio – 1950

Revista do Rádio - 1950

Revista do Rádio – 1950

Nessa época, Osvaldo Molles já era considerado um dos maiores nomes do rádio paulista.

Osvaldo Molles - 1950

Osvaldo Molles – 1950

Em 1951 Osvaldo Molles vai para a PRH-9, Rádio Bandeirantes. Durante os quatro anos que ali permaneceu, criou, escreveu e produziu um série diversificada de programas.

Revista do Rádio - 1951

Revista do Rádio – 1951

Revista do Rádio - 1951

Revista do Rádio – 1951

Cinelândia - 1952

Cinelândia – 1952

Revista do Rádio - 1952

Revista do Rádio – 1952

Sua intensa produção o levou a todos os prêmios do radialismo, sobretudo o Troféu Roquette Pinto, uma espécie de Oscar do rádio e televisão.

Revista do Rádio - 1954

Revista do Rádio – 1954

 A criação de Molles incluía programas musicais, variedades e debates. 

Revista do Rádio 1954

Revista do Rádio 1954

Revista do Rádio 1954

Revista do Rádio 1954

Chegando ao seu ponto máximo num programa exclusivamente dedicado à literatura brasileira. 

Revista do Rádio 1954

Revista do Rádio 1954

Mas sem nunca abandonar o humor; muitas vezes utilizando-se do trocadilho, como a brincadeira com o nome do jornal O Estado de São Paulo, traduzido para o Estalo de São Paulo.

Revista do Rádio 1955

Revista do Rádio 1955

. Seus trabalhos movimentavam todo o cast da emissora em que estivesse trabalhando.

Molles e elenco da Rádio Bandeirantes

Molles e elenco da Rádio Bandeirantes

E movimentava também os companheiros de escrita. 

Osvaldo Molles e Irvando Luiz

Osvaldo Molles e Irvando Luiz

Em meados de 1955 ele retornava à Rádio Record em grande estilo. 

Revista do Rádio 1955

Revista do Rádio 1955

Revista do Rádio 1955

Revista do Rádio 1955

Revista do Rádio 1956

Revista do Rádio 1956

Revista do Rádio 1956

Revista do Rádio 1956

Sua produção ia além dos microfones da PRB-9, alcançando também as câmeras da TV Record. 

Revista do Rádio 1956

Revista do Rádio 1956

Revista do Rádio 1956

Revista do Rádio 1956

Foi ainda em 1956 que Molles criou para o rádio um programa que cujos personagens iriam cair na graça do público. 

Revista do Rádio 1956

Revista do Rádio 1956

Bangalôs e Malocas trazia Zé Conversa (Adoniran Barbosa) e Catarina (Maria Amélia) como personagens principais. 

Imagem captada do livro "Dá licença de contar", de Ayrton Mugnaini Jr.

Imagem captada do livro “Dá licença de contar”, de Ayrton Mugnaini Jr.

Bangalôs e Malocas teria seu título alterado para História das Malocas, que tornou-se um dos principais programas criados por Molles. Charutinho (Adoniran Barbosa), Pafunça (Maria Amélia) e Terezoca (Maria Tereza) rapidamente tornaram-se ídolos do rádio paulista. 

Revista do Rádio 1957

Revista do Rádio 1957

Adoniran (Charutinho) e Maria Amélia (Pafunça) 1957

Adoniran (Charutinho) e Maria Amélia (Pafunça) 1957

Maria Tereza (Terezoca) 1957

Maria Tereza (Terezoca) 1957

E sua produção não para tanto em rádio quanto em TV.

Revista do Rádio 1957

Revista do Rádio 1957

Revista do Rádio 1957

Revista do Rádio 1957

Revista do Rádio 1957

Revista do Rádio 1957

Folha da Manhã 1957

Folha da Manhã 1957

O programa Dicionário de Gírias foi tão bem aceito pelo público e pelos patrocinadores que lhe valeu um troféu extra.

Revista do Rádio 1957

Revista do Rádio 1957

 Falando em troféu, em 1958, Osvaldo Molles chegava ao 9º Troféu Roquette Pinto consecutivo. 

Revista do Rádio 1959

Revista do Rádio 1959

Molles, Thalma de Oliveira e Walter Jr. na entrega do Roquette Pinto

Molles, Thalma de Oliveira e Walter Jr. na entrega do Roquette Pinto 1958

Os anos 60 não tiraram de Osvaldo Molles a paixão por criar programas e personagens.

Revista do Rádio 1960

Revista do Rádio 1960

Osvaldo Moles 1962

Revista do Rádio 1961

Revista do Rádio 1961

Revista do Rádio 1961

Revista do Rádio 1965

Revista do Rádio 1965

Os seguidos sucessos de Molles no rádio e na tv evidenciavam a sua parceria com Adoniran Barbosa. Ele foi o que melhor soube escrever textos humorísticos para Adoniran Barbosa.

Osval Molles e Adoniran Barbosa

Osval Molles e Adoniran Barbosa

Tanto é verdade que dessa parceria resultaram composições musicais , tais como “Ai, Guiomar”, “O casamento do Moacir”, “Pafunça”, “Sai água da minha boca”, “Segura o apito”… Segura o apito 3
E a antológica “Tiro ao Árvaro”. tiro ao árvaroEm 1959, Osvaldo Molles (que não tinha carro) foi contemplado com um Renault Dauphine num sorteio ocorrido na entrega do Troféu Roquette Pinto (em sua carreira, foram 11 troféus recebidos) . Ele levou muito tempo para sair com o carro, pois não estava acostumado a dirigir. Quando passou a fazê-lo, pedia a quem estivesse ao seu lado para que não falasse durante o trajeto para não distraí-lo. Um dia, deu carona a um colega e fez o tal pedido. NO meio do caminho o colega perguntou::
— Molles, por que você não gosta que o passageiro fale enquanto você dirige?
E Molles, que embora fosse criador de humor era um cara muito sério, mandou essa:
— Mania. No carro que antes eu dirigia nenhum passageiro falava comigo.
— Que carro era?
— Carro funerário.
Infelizmente, o suicídio em 1967 viria a pôr um fim na história daquele que, possivelmente, melhor tenha compreendido o rádio e o ouvinte paulistano.
Clique no player e ouça um trecho do famoso programa “História das Malocas” com Adoniran Barbosa e Maria Tereza interpretando o texto de Osvaldo Molles.

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José Sampaio

Sampaio

Nome completo: José Roberto Abrão Chain
Nascimento 28/03/1936 – Lins – SP
Falecimento 16/09/2009 – São Paulo – SP

Quando garoto era goleiro e, segundo relatos, era craque, apesar da baixa estatura. Também era briguento e não pensava duas vezes em pôr em prática alguns golpes de boxe, seu segundo esporte predileto. A tudo isso juntava-se o fato de ser apaixonado pelo rádio e cinema. Se fosse pela sua vontade, seu caminho estaria entre o futebol, o pugilismo e a vida artística. Entretanto, o pai tinha outro pensamento. Queria, sim, ver o filho formado em Direito. Este foi o motivo que levou o jovem José Roberto a deixar o interior de São Paulo e ir para a capital tentar realizar ao menos um de seus sonhos.
Precisou ter muita fibra para enfrentar a frustração do fracasso em testes nos campos, nos ringues e nos estúdios. Até que um dia a sorte começou a lhe sorrir. Depois de um teste foi convidado por Manoel de Nóbrega a participar do programa sensação do rádio dos anos 50: Programa Manoel de Nóbrega, pela Rádio Nacional de São Paulo. Começava ali a sua carreira como radioator.

Raquel Martins e José Sampaio

Raquel Martins e José Sampaio

Mudou o nome para José Sampaio numa homenagem a Silveira Sampaio, um dos maiores nomes do teatro, rádio e TV brasileira. Aconselhado pelo comediante Chocolate começou a desenvolver textos de humor e comédia.
Mudou-se para o Rio de Janeiro e ali iniciou alguns trabalhos para o teatro de revista. Em pouco tempo, José Sampaio tornou-se um dos mais requisitados autores tanto no Rio quanto em São Paulo. “Samba de Cartola”, “Só Vênus”, “Esquadrão de Beldades” e “Elas têm piriri no pororó” foram alguns dos seus títulos do gênero que aliava humor à música, ao luxo e às grandes coreografias.
Durante os anos 70 voltou a se dedicar quase que exclusivamente ao humor televisivo, passando por todas as emissoras do eixo Rio-São Paulo.
A partir dos anos 80 iniciou parceria com Chico Anysio que duraria mais de uma década depois de haver passado pela TVS, embrião do SBT, escrevendo programas como Alegria 81, Alegria 82, Reapertura e Feira do Riso. Ao lado de Chico surgiram marcantes criações como alguns dos personagens mais marcantes da Escolinha do Professor Raimundo. Delineados por Chico, Sampaio cria Dona Cacilda [Cláudia Jimenez], dona Bela [Zezé Macedo], seo Peru [Orlando Drummond] e Rolando Lero [Rogério Cardoso], e vários outros.
José Sampaio ainda criaria o emblemático Bento Carneiro, o vampiro brasileiro, cujo nome foi dado por Jorge, seu único filho.
Convidado pela RTP, rede estatal portuguesa, José Sampaio colaborou com o programa “As lições do Tonecas”, que tornou-se sucesso absoluto em Portugal.
Nos final dos anos 90 ainda escreveria “A Escolinha do Barulho”, na TV Record. Na virada do milênio seria colaborador de Carlos Alberto de Nóbrega em “A Praça é Nossa”, no SBT, e de Tom Cavalcante no “Show do Tom” pela TV Record.
Seu último trabalho foi na equipe de redatores em “Uma Escolinha Muito Louca” pela TV Bandeirantes, em 2008.

PRINCIPAIS TRABALHOS EM HUMOR:

Programa Manoel de Nóbrega – Rádio Nacional-SP – 1954

Miss Campeonato – TV Paulista –1957

Praça da Alegria – TV Paulista – 1957

Clímax para Milhões – TV Paulista – 1957

O Grande Espetáculo – TV Paulista – 1957

A Noite é de Garbo – TV Paulista – 1958 

Tá Tudo Naquela Base – TV Paulista – 1960

Noite de Gala – TV Rio – 1960

Tim-tim por tam-tam – TV Rio – 1960

TV Rio Riso – TV Rio – 1960

Domingo Alegre – TV Rio – 1962

Chico Anysio Show – TV Excelsior – 1963

O Riso é o Limite – TV Rio – 1963

A Cidade se Diverte – TV Excelsior – 1964

Viva o Vovô Deville – TV Excelsior – 1964

Cré com Cré; Zé com Zé – TV Tupi-Rio – 1968

Domingo Alegre – TV Tupi – 1976

Cidade de Araque – TV Bandeirantes – 1977

Os Pankekas – TV Tupi – 1978

Reapertura – SBT – 1981 

Alegria 81 – SBT – 1981

Alegria 82 – SBT – 1982

Chico Anysio Show – TV Globo – 1982

Show Riso – TV Record – 1985

Chico Anysio Show – TV Globo – 1988

Escolinha do Prof. Raimundo – TV Globo – 1990

Estados Anysios de Chico City – TV Globo – 1991 

As lições do Tonecas – RTP – Portugal – 1998

Escolinha do Barulho – TV Record – 1998

A Praça é Nossa – SBT – 2001

Zorra Total – TV Globo – 2002

Show do Tom – TV Record – 2007

Uma escolinha muito louca – TV Bandeirantes – 2008

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Nhô Totico e a 1ª escolinha

Nhô Totico, criador da primeira escolinha no rádio

Nhô Totico, criador da primeira escolinha no rádio

Nome completo: Vital Fernandes da Silva
Nascimento 10/05/1903 Descalvado – SP
Falecimento 04/04/1996 – São Paulo – SP 

Filho de imigrante italiana e de músico baiano, Vital Fernandes da Silva teve sua primeira experiência artística já aos 4 anos de idade na pequena cidade de  Descalvado, interior de São Paulo. Seu pai – que se tornara sócio do cinema da cidade – fazia acompanhamento musical durante a exibição dos filmes mudos. Isso deu oportunidade para que Vital e algumas outras crianças enriquecessem as cenas criando efeitos sonoros atrás da tela.
Veio para São Paulo aos 10 anos acompanhando a família. Um ano depois foi apresentado aos Frades do Convento de São Francisco, instituição localizada ao lado da Faculdade de Direto do Largo São Francisco. Ali, Vital começou a cuidar a encenar e dirigir peças teatrais. Notabilizava-se pela facilidade em lidar com o humor e não demorou a se tornar humorista oficial da turma de direito do diretório acadêmico XI de Agosto. O jornal Correio Paulistano de 27/05/1926 registra sua participação em evento organizado pela Associação de Ex-Alunos Salesianos.     

1927-02-01 Correio Paulistano

Embora mantivesse o sonho de ser artista, Vital conseguiu emprego  na Repartição de Águas e Esgotos. Em 1932, com o inicio da revolução, ingressou nas tropas paulistas e foi enviado para o interior do estado. Com o final da revolução, retornou à capital onde tentou fazer um teste na Rádio Educadora Paulista, ocasião em que, pela primeira vez utilizou o pseudônimo de Nhô Totico, com base em seu apelido de infância: Totó.
O teste foi um fiasco, segundo declarações do próprio Nhô Totico. Mas logo em seguida ele seria levado pelas mãos de Enéias Machado de Assis, radialista e estudante de Direito, a conhecer Olavo Fontoura, jovem diretor e proprietário de uma rádio clandestina chamada DKI, A Voz do Juqueri. Em novo teste e já com o pseudônimo Nhô Totico, ele improvisou um rápido teatrinho fazendo todas as vozes dos personagens e também os efeitos especiais. Isso lhe valeu espaço para apresentar um programa na emissora, embora sem remuneração. O nome do programa era XPTO – Vila da Arrelia (sendo XPTO, à época, era uma sigla que considerava, de forma jocosa, algo magnífico). 

Correio Paulistano 24/11/1934

Correio Paulistano 24/11/1934

Em 1934 a rádio deixaria de ser clandestina, surgindo, então, a Rádio Cultura de São Paulo, PRE-4, onde NHô Totico, além de continuar com seu XPTO Vila da Arrelia, também lançou DKI, Nhô Totico em Jerusalém de DKI e As peripécias de Nhô Totico. Nesse programa, Nhô Totico criava e interpretava todos os personagens: Caropita, uma italiana que estava louca para se casar. Esse personagem possuía o bordão “é sortero ô cajado?”, que se tornou famoso. Outros personagens eram Beppo, pai de Caropita; Manoel, amigo da família; Salim, o homem da prestação; Sayamoto, o motorista e o nordestino Soldado 39. Nhô Totico não fazia o texto previamente. Tudo ia surgindo de improviso. O sucesso de Nho Totico era tão grande que Rádio Cultura era chamada de “a rádio do Nhô Totico”. 

Correio Paulistano 1935

Correio Paulistano 1935

No ano seguinte, Nhô Totico foi contratado pela Rádio Record e ali, sempre em total improviso, surgiu a Escolinha da Dona Olinda, o primeiro programa com esse tipo de formato. Da mesma forma como fizera em seu primeiro programa na Rádio Cultura, ele criou e interpretava todos os personagens da Escolinha de Dona Olinda. E, como sempre, na base do improviso. Os alunos representavam um painel da sociedade Brasileia na época: Chiquinho, menino da cidade, inteligente; Chicote, garoto nordestino, valentão; Chicória, filho de italianos, torcedor do Palestra Itália; Jorginho, filho de turcos que tinham uma “lojinha”; Sebastião, o menino caipira, e Soko, o garoto japonês. O sucesso de Chiquinho, Chicote e Chicória era tão grande que os três tiveram um programa só seu. 

Estadão 08/11/1936

Estadão 08/11/1936

Em 1938, já consagrado com sua escolinha, Nhô Totico retornou à Rádio Cultura, cujo auditório recém construído havia recebido o nome de Palácio do Rádio. De início voltou apresentando seu XPTO – Vila da Arrelia, às 22 horas. A emissora recebeu pedidos para que ele voltasse a fazer seu programa infantil. Duas semanas depois, Nhô Totico passaria a ter jornada dupla na emissora: além do programa noturno ele passou a ter outro, vespertino. Aliás, Nhô Totico vivia, na verdade, jornada tripla, pois jamais abriu mão de seu emprego na repartição. Inicialmente, o programa infantil contava as aventuras do detetive Nhô Totico e seu cão Perdigueiro no combate à terrível Quadrilha de Aço. Mas logo em seguida ele voltaria com sua escolinha. 

Correio Paulistano 1938

Correio Paulistano 1938

Ao voltar com a Escolinha de D. Olinda, Nhô Totico foi informado sobre a impossibilidade de usar os nomes Chiquinho, Chicote e Chicória, os três personagens mais famosos. Motivo: a Rádio Record registrara tais nomes. Os personagens foram, então, rebatizados. Em lugar de Chiquinho, Chicote e Chicória surgiram Minguinho, Mingote e Mingau. Mudavam os nomes, mas o sucesso seria o mesmo. nho_totico

 

Nhô Totico e sua trupe era cada vez mais solicitada para participação em eventos artísticos. Divide o palco com celebridades da música como Carmem [e sua irmã Aurora] Miranda e Francisco Alves. Afinal, todos querem ver aquele homem que, sozinho, era um elenco inteiro.
Vez por outra, Nhô Totico trazia à escolinha a sua formação católica: “Menino, preste atenção à aula. Na escola e na missa não se olha para trás”, dizia D Olinda. 

Nh-- Totico

Em 1940, tornou-se contratado exclusivo da Gessy–Lever, considerado, até então, o maior contrato do meio radiofônico, consequência natural do seu enorme sucesso. Segundo o jornal Correio Paulistano de 17/09/1940, mais de mil fãs iam diariamente ao estúdio do Palácio do Rádio para assistir ao humorista.  Na mesma época, Nhô Totico passava a apresentar seu programa também pela Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Nho-Totico-anuncio-Gessy

Em Janeiro de 1941 seria obrigado a dar uma pausa em suas atividades em virtude do falecimento de D. Catharina, sua esposa. Embora o conteúdo do programa fosse simples e inocente, Nhô Totico não perdia a oportunidade para alfinetar o governo Getúlio Vargas.  Certa vez, sua D. Olinda, em plena aula, vociferou “fica quieto, menino, se não você vai ficar de castigo e ouvir a Hora do Brasil”. 

Nh-- Totico2

Nova mudança de emissora aconteceria e a 07/09/1949 as edições da Folha da Manhã e da Folha da Noite anunciavam a estreia de Nhô Totico na Rádio América. No ano seguinte ele seria agraciado com o Troféu Roquette Pinto como melhor humorista de rádio. 

Folha da Manhã 09/07/1947

Folha da Manhã 09/07/1947

Em 1960 encerraria sua carreira no rádio, tendo, nesse meio tempo, também uma passagem de uma temporada no rádio de Minas Gerais.
O ano de 1960 também marcaria seu ingresso na televisão, através da TV Excelsior de São Paulo. Ali permaneceria até 1962 quando, então, encerrou sua carreira, sendo, vez por outra, convidado para participações especiais em programas de rádio e TV. Rolando Boldrin, em seus tempos de TV Globo, levou-o várias vezes ao seu programa Som Brasil. E Nhô Totico, já com mais de 80 anos, revivia seus personagens, como sempre, de improviso. 

São Paulo na TV - 1960

São Paulo na TV – 1960

Segundo Rolando Boldrin, Nhô Totico, antitabagista convicto costumava enviar um cartão a seus amigos fumantes com uma piadinha rápida: “Burro fuma? Não! Logo, o burro é mais inteligente que você”.
Nhô Totico faleceu em 1996 tendo ao lado a sua segunda esposa, D. Jutta Hetel Fernandes da Silva, com que se casara em 1946. 

PRINCIPAIS TRABALHOS EM HUMOR NO RÁDIO E NA TELEVISÃO:

XPTO Vila da Arrelia – Rádio Cultura – 1934

DKI – Nhô Totico em Jerusalém – Rádio Cultura – 1934

DKI – Nhô Totico e suas peripécias – Rádio Cultura – 1934

Chiquinho, Chicote e Chicória – Rádio Record – 1935

Escolinha da D. Olinda – Rádio Record – 1935

Nhô Totico detetive – Rádio Cultura – 1938

Escolinha da D. Olinda – Rádio Cultura – 1938

XPTO Vila da Arrelia – Rádio Cultura – 1938

Programa Nhô Totico – Rádio Mayrink Veiga – 1940

Programa Nhô Totico – Rádio América – 1947

Programa Nhô Totico – Rádio Inconfidência – 1950

 Programa Nhô Totico – TV Excelsior – 1960

Clique no player e ouça um trecho da Escolinha da Dona Olinda de 1947 interpretada por Nhô Totico.

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