Nhô Totico e a 1ª escolinha

Nhô Totico, criador da primeira escolinha no rádio

Nhô Totico, criador da primeira escolinha no rádio

Nome completo: Vital Fernandes da Silva
Nascimento 10/05/1903 Descalvado – SP
Falecimento 04/04/1996 – São Paulo – SP 

Filho de imigrante italiana e de músico baiano, Vital Fernandes da Silva teve sua primeira experiência artística já aos 4 anos de idade na pequena cidade de  Descalvado, interior de São Paulo. Seu pai – que se tornara sócio do cinema da cidade – fazia acompanhamento musical durante a exibição dos filmes mudos. Isso deu oportunidade para que Vital e algumas outras crianças enriquecessem as cenas criando efeitos sonoros atrás da tela.
Veio para São Paulo aos 10 anos acompanhando a família. Um ano depois foi apresentado aos Frades do Convento de São Francisco, instituição localizada ao lado da Faculdade de Direto do Largo São Francisco. Ali, Vital começou a cuidar a encenar e dirigir peças teatrais. Notabilizava-se pela facilidade em lidar com o humor e não demorou a se tornar humorista oficial da turma de direito do diretório acadêmico XI de Agosto. O jornal Correio Paulistano de 27/05/1926 registra sua participação em evento organizado pela Associação de Ex-Alunos Salesianos.     

1927-02-01 Correio Paulistano

Embora mantivesse o sonho de ser artista, Vital conseguiu emprego  na Repartição de Águas e Esgotos. Em 1932, com o inicio da revolução, ingressou nas tropas paulistas e foi enviado para o interior do estado. Com o final da revolução, retornou à capital onde tentou fazer um teste na Rádio Educadora Paulista, ocasião em que, pela primeira vez utilizou o pseudônimo de Nhô Totico, com base em seu apelido de infância: Totó.
O teste foi um fiasco, segundo declarações do próprio Nhô Totico. Mas logo em seguida ele seria levado pelas mãos de Enéias Machado de Assis, radialista e estudante de Direito, a conhecer Olavo Fontoura, jovem diretor e proprietário de uma rádio clandestina chamada DKI, A Voz do Juqueri. Em novo teste e já com o pseudônimo Nhô Totico, ele improvisou um rápido teatrinho fazendo todas as vozes dos personagens e também os efeitos especiais. Isso lhe valeu espaço para apresentar um programa na emissora, embora sem remuneração. O nome do programa era XPTO – Vila da Arrelia (sendo XPTO, à época, era uma sigla que considerava, de forma jocosa, algo magnífico). 

Correio Paulistano 24/11/1934

Correio Paulistano 24/11/1934

Em 1934 a rádio deixaria de ser clandestina, surgindo, então, a Rádio Cultura de São Paulo, PRE-4, onde NHô Totico, além de continuar com seu XPTO Vila da Arrelia, também lançou DKI, Nhô Totico em Jerusalém de DKI e As peripécias de Nhô Totico. Nesse programa, Nhô Totico criava e interpretava todos os personagens: Caropita, uma italiana que estava louca para se casar. Esse personagem possuía o bordão “é sortero ô cajado?”, que se tornou famoso. Outros personagens eram Beppo, pai de Caropita; Manoel, amigo da família; Salim, o homem da prestação; Sayamoto, o motorista e o nordestino Soldado 39. Nhô Totico não fazia o texto previamente. Tudo ia surgindo de improviso. O sucesso de Nho Totico era tão grande que Rádio Cultura era chamada de “a rádio do Nhô Totico”. 

Correio Paulistano 1935

Correio Paulistano 1935

No ano seguinte, Nhô Totico foi contratado pela Rádio Record e ali, sempre em total improviso, surgiu a Escolinha da Dona Olinda, o primeiro programa com esse tipo de formato. Da mesma forma como fizera em seu primeiro programa na Rádio Cultura, ele criou e interpretava todos os personagens da Escolinha de Dona Olinda. E, como sempre, na base do improviso. Os alunos representavam um painel da sociedade Brasileia na época: Chiquinho, menino da cidade, inteligente; Chicote, garoto nordestino, valentão; Chicória, filho de italianos, torcedor do Palestra Itália; Jorginho, filho de turcos que tinham uma “lojinha”; Sebastião, o menino caipira, e Soko, o garoto japonês. O sucesso de Chiquinho, Chicote e Chicória era tão grande que os três tiveram um programa só seu. 

Estadão 08/11/1936

Estadão 08/11/1936

Em 1938, já consagrado com sua escolinha, Nhô Totico retornou à Rádio Cultura, cujo auditório recém construído havia recebido o nome de Palácio do Rádio. De início voltou apresentando seu XPTO – Vila da Arrelia, às 22 horas. A emissora recebeu pedidos para que ele voltasse a fazer seu programa infantil. Duas semanas depois, Nhô Totico passaria a ter jornada dupla na emissora: além do programa noturno ele passou a ter outro, vespertino. Aliás, Nhô Totico vivia, na verdade, jornada tripla, pois jamais abriu mão de seu emprego na repartição. Inicialmente, o programa infantil contava as aventuras do detetive Nhô Totico e seu cão Perdigueiro no combate à terrível Quadrilha de Aço. Mas logo em seguida ele voltaria com sua escolinha. 

Correio Paulistano 1938

Correio Paulistano 1938

Ao voltar com a Escolinha de D. Olinda, Nhô Totico foi informado sobre a impossibilidade de usar os nomes Chiquinho, Chicote e Chicória, os três personagens mais famosos. Motivo: a Rádio Record registrara tais nomes. Os personagens foram, então, rebatizados. Em lugar de Chiquinho, Chicote e Chicória surgiram Minguinho, Mingote e Mingau. Mudavam os nomes, mas o sucesso seria o mesmo. nho_totico

 

Nhô Totico e sua trupe era cada vez mais solicitada para participação em eventos artísticos. Divide o palco com celebridades da música como Carmem [e sua irmã Aurora] Miranda e Francisco Alves. Afinal, todos querem ver aquele homem que, sozinho, era um elenco inteiro.
Vez por outra, Nhô Totico trazia à escolinha a sua formação católica: “Menino, preste atenção à aula. Na escola e na missa não se olha para trás”, dizia D Olinda. 

Nh-- Totico

Em 1940, tornou-se contratado exclusivo da Gessy–Lever, considerado, até então, o maior contrato do meio radiofônico, consequência natural do seu enorme sucesso. Segundo o jornal Correio Paulistano de 17/09/1940, mais de mil fãs iam diariamente ao estúdio do Palácio do Rádio para assistir ao humorista.  Na mesma época, Nhô Totico passava a apresentar seu programa também pela Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Nho-Totico-anuncio-Gessy

Em Janeiro de 1941 seria obrigado a dar uma pausa em suas atividades em virtude do falecimento de D. Catharina, sua esposa. Embora o conteúdo do programa fosse simples e inocente, Nhô Totico não perdia a oportunidade para alfinetar o governo Getúlio Vargas.  Certa vez, sua D. Olinda, em plena aula, vociferou “fica quieto, menino, se não você vai ficar de castigo e ouvir a Hora do Brasil”. 

Nh-- Totico2

Nova mudança de emissora aconteceria e a 07/09/1949 as edições da Folha da Manhã e da Folha da Noite anunciavam a estreia de Nhô Totico na Rádio América. No ano seguinte ele seria agraciado com o Troféu Roquette Pinto como melhor humorista de rádio. 

Folha da Manhã 09/07/1947

Folha da Manhã 09/07/1947

Em 1960 encerraria sua carreira no rádio, tendo, nesse meio tempo, também uma passagem de uma temporada no rádio de Minas Gerais.
O ano de 1960 também marcaria seu ingresso na televisão, através da TV Excelsior de São Paulo. Ali permaneceria até 1962 quando, então, encerrou sua carreira, sendo, vez por outra, convidado para participações especiais em programas de rádio e TV. Rolando Boldrin, em seus tempos de TV Globo, levou-o várias vezes ao seu programa Som Brasil. E Nhô Totico, já com mais de 80 anos, revivia seus personagens, como sempre, de improviso. 

São Paulo na TV - 1960

São Paulo na TV – 1960

Segundo Rolando Boldrin, Nhô Totico, antitabagista convicto costumava enviar um cartão a seus amigos fumantes com uma piadinha rápida: “Burro fuma? Não! Logo, o burro é mais inteligente que você”.
Nhô Totico faleceu em 1996 tendo ao lado a sua segunda esposa, D. Jutta Hetel Fernandes da Silva, com que se casara em 1946. 

PRINCIPAIS TRABALHOS EM HUMOR NO RÁDIO E NA TELEVISÃO:

XPTO Vila da Arrelia – Rádio Cultura – 1934

DKI – Nhô Totico em Jerusalém – Rádio Cultura – 1934

DKI – Nhô Totico e suas peripécias – Rádio Cultura – 1934

Chiquinho, Chicote e Chicória – Rádio Record – 1935

Escolinha da D. Olinda – Rádio Record – 1935

Nhô Totico detetive – Rádio Cultura – 1938

Escolinha da D. Olinda – Rádio Cultura – 1938

XPTO Vila da Arrelia – Rádio Cultura – 1938

Programa Nhô Totico – Rádio Mayrink Veiga – 1940

Programa Nhô Totico – Rádio América – 1947

Programa Nhô Totico – Rádio Inconfidência – 1950

 Programa Nhô Totico – TV Excelsior – 1960

Clique no player e ouça um trecho da Escolinha da Dona Olinda de 1947 interpretada por Nhô Totico.

FacebookTwitterGoogle+

Write a Reply or Comment